quinta-feira, 29 de novembro de 2012

João Melo: “Minha língua é de trapo”






Nos anos 70, uma jovem chamada Lúcia, de 13 anos, estudante do Centro Integrado de Educação Navarro de Brito, moradora da avenida Ilhéus, cometeu suicídio ingerindo barbitúrico. A razão? A família estava desgostosa com seu relacionamento amoroso, o não namorado não gozava de prestígio junto aos seus e ela, frustrada com a situação, decide se matar. No entanto, uma versão começa a correr na cidade: a jovem teria sido sepultada viva. Um líder estudantil da época, também estudante do CIenb e colega da jovem, promoveu um verdadeiro levante e conseguiu a exumação do corpo. Pois bem: este militante estudantil era João Melo, e ali, naquela ocasião nascia o repórter, que aproveitou o fato para escrever sua primeira reportagem, então com 15 anos. Como era menor de idade, não podia assinar as matérias. Passou então a usar pseudônimos, masculinos e femininos. O mais marcante foi Catarina. Já nessa época, passou a escrever para o Jornal de Conquista, de Aníbal Viana, Tribuna da Bahia e Jornal A Tarde. “Eu vivo a notícia 24 horas por dia. Estou fazendo uma coisa que gosto. Tenho 56 anos, comecei a trabalhar quando tinha apenas 15 anos. Vivo intensamente a profissão, eu respiro notícia”, conta João Melo Cabeção, que já teve várias oportunidades de outros serviços, inclusive na área da educação, já que é formado pela UESB Estudos Sociais (uma mescla que havia de Geografia e História). “Mas não tem nada a ver comigo, a minha paixão é escrever, sou literalmente apaixonado pela leitura e pela escrita”. Indagado se já correu riscos ao fazer reportagens policiais, afirmou que já sofreu inúmeras ameaças de morte. “Até delegado já me ameaçou”, diz, para lembrar que “também já derrubei uma delegada;”. Conhecido pelas suas críticas em doses mordazes, João Melo afirmou que, merecendo, não poupa nem aos amigos: “Comigo não tem esse negócio, falo mesmo, minha língua é de trapo”.